Monday, May 26, 2008

Poesia e Música do Outro lado do Atlântico

A água une. Das margens do Niger e do Congo, mesmo junto ao rio S. Francisco que desemboca no grande delta do Mississipi. Na corrente da música. Ou do trabalho ao sol impiedoso. Queimadas e desbaste de savana, trabalho nas plantações de cana de açúcar ou campos de algodão. Tem que se cantar senão vida fica muito triste, como dizia um senhor cabo-verdiano.

No outro dia regressava da praia, com o corpo quente do sol, luz do fim do dia e o espírito de Gil Scott-Heron entra pela radio. Jose James com "Park Bench People" fazendo uma versão de um original dos Freestyle Fellowship de 1993, no disco "Dreamer" de 2008 . O cúmulo do bem estar despreocupado a acordar com a benevolência comprometida do soul.


Para conhecer Gil Scott-Heron, "The Revolution will not be Televised" (1971).


Last Poets em "Niggers are scared of the revolution" com discurso de Malcom X, de "The Last Poets"(1970)


E por último Linton Kwesi Johnson, "Five Nights of Bleeding".


São o que resta dos trovadores medievais que cantavam em provençal, poucas vezes à janela das raparigas que os castelos eram altos e os arqueiros certeiros. O estilo é soul e hip-hop para os distraídos. Se quisermos ser ainda mais claros é esta a poesia que chega à gente.

5 comments:

anandre said...

ALDA DO ESPÍRITO SANTO
(S.TOMÉ E PRÍNCIPE)


EM TORNO DA MINHA BAIA


Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições
HUMANIDADE.

(1963)

anandre said...

AGOSTINHO NETO

COM OS OLHOS SECOS

Com os olhos secos
- estrelas de brilho inevitável
atravós do corpo atravós do espírito
sobre os corpos inanimes dos mortos
sobre a solidão das vontades inertes
nós voltamos

Nós estamos regressando África
e todo o mundo estará presente
no super-batuque festivo
sob as sombras do Maiombe
no carnaval grandioso
pelo Bailundo pela Lunda

Com os olhos secos
contra este medo da nossa África
que herdámos dos massacres e mentiras

Nós voltamos África
estrelas de brilho irresistível
com a palavra escrita nos olhos secos
- LIBERDADE.

anandre said...

DAVID MESTRE
(ANGOLA)


ÁFRICA


É neste silêncio neste assalto do vento a
navegar a floresta neste sol neste amor
neste vegetal cobrir-me de verde e ser
catana cerce a executar o ânimo
afagar as mulheres no regresso da lavra
fazer das mãos a festa sonora do sexo
na cultivação do milho

É neste grito rente ao corpo frágil das
folhas que mais em ti me venço e
moro nas grandes batalhas da vida
no extenso vale das nossas angústias
no duelo cíclico das nossas intenções


(1972)

anandre said...

Autor: Alda Lara, Angola

"Prelúdio"

Pela estrada desce a noite...
Mãe-Negra, desce com ela...

Nem buganvilias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.

Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...

Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada...

Mas aí de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que customavas contar...

Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta, bem calada.

É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...

anandre said...

Os Exílios na Literatura Caboverdiana
Luiz Silva

http://www.islasdecaboverde.com.ar/islas_de_cabo_verde/noticias/os%20exilios_na_literatura_caboverdiana.htm